Coreia do Sul: o passado autoritário da potência asiática

  • 04/12/2024
Presidente do país decretou lei marcial, mas voltou atrás após decisão ter sido derrubada pelo Parlamento Parlamentares da Coreia do Sul derrubaram o decreto de lei marcial após ele ser anunciado horas antes pelo presidente Yoon Suk Yeol nesta terça-feira (3) — madrugada de quarta (4) em Seul. Horas após a decisão do Parlamento, o presidente anunciou que revogaria a declaração de lei marcial. Isso ocorre após confrontos entre manifestantes e as forças de segurança dentro e fora da Assembleia Nacional. A crise eclodiu em um momento em que o presidente está enfraquecido após a última eleição, que foi vencida pela oposição. Não está claro o que acontece agora. Alguns dos manifestantes reunidos do lado de fora da assembleia gritavam: “Prendam Yoon Suk Yeol”. A ação do presidente Yoon surpreendeu o país — que se vê como uma democracia moderna e próspera que evoluiu muito desde seus dias de ditadura. Isso está sendo visto como o maior desafio para essa sociedade democrática em décadas. Como disse o presidente do parlamento na quarta-feira: “Protegeremos a democracia junto com o povo”. A BBC listou alguns fatos históricos que ajudam a explicar os conflitos existentes no país asiático e como a Coreia do Sul é vista mundialmente. Guerras e cultura pop A Península Coreana foi ocupada pelo Japão entre 1910 e 1945, período em que forças japonesas foram acusadas de cometer atrocidades contra a população local. O encerramento da Segunda Guerra Mundial, no Pacífico, ocorreu após o lançamento de duas bombas atômicas pelos Estados Unidos sobre cidades japonesas. Isso levou à redenção do Japão e ao fim da ocupação nipônica da península. A península, entretanto, acabou dividida, devido à presença de tropas soviéticas no norte e dos Estados Unidos no sul. A república do sul foi proclamada em 1948 e recebeu apoio militar dos Estados Unidos e da ONU quando foi invadida pela Coreia do Norte, dois anos mais tarde. A Guerra da Coreia terminou em 1953, sem um acordo formal de paz, deixando a Coreia tecnicamente em guerra por mais de 50 anos. A Coreia do Sul, capitalista, desenvolveu-se até se tornar um dos países mais afluentes da Ásia. A metade norte, comunista, seguiu um caminho oposto, marcado pelo totalitarismo e pela pobreza. Por muito tempo, no entanto, a parte sul não desfrutou de liberdade política e democracia. As quatro décadas seguintes à divisão da península foram marcadas por um regime autoritário, durante o qual esquemas patrocinados pelo governo incentivaram o crescimento de conglomerados industriais familiares, incluindo os grupos Hyundai e Samsung. Esses grupos acabaram ajudando a transformar a Coreia do Sul em uma das maiores economias do mundo e uma importante exportadora de carros e produtos eletrônicos. No século 21, a Coreia do Sul também se tornou uma referência em cultura popular, com o surgimento de grupos musicais de jovens, num estilo conhecido como K-pop. Os Estados Unidos mantêm dezenas de milhares de soldados no país. Quem é o presidente Yoon Suk-yeol O presidente Yoon Suk-yeol assumiu o cargo em maio de 2022, após vencer as eleições. Ele sucedeu a Moon Jae-in que governava o país desde 2017. Suk-yeol se filiou ao Partido do Povo no Poder em 2021 depois de ter ocupado o cargo de Procurador Geral do país por quase 2 anos. A candidatura do conservador Suk-yeol se impôs após o escândalo envolvendo o famoso político Cho Kuk e sua filha, a estudante de medicina Cho Min. Pai e filha foram acusados de falsificar documentos acadêmicos incluindo estudos científicos que segundo alegavam teriam sido revisados por cientistas sul-coreanos. Cho Kuk ocupou por dois anos (2017-2019) o cargo de ministro da Casa Civil durante o mandato do então presidente Moon Jae-in. Moon Jae-in substituiu a primeira presidente mulher do país, Park Geun-hye, que sofreu impeachment devido a seu envolvimento num escândalo de corrupção. Moon, um advogado de direitos humanos que propôs uma postura mais leve em relação à Coreia do Norte, disse que trabalharia pela paz na península. Ele afirmou que estaria disposto a visitar Pyongyang, a capital norte-coreana, caso as condições fossem propícias. Filho de refugiados vindos da Coreia do Norte, Moon assumiu numa época em que as tensões entre os dois vizinhos estavam altas, com os Estados Unidos e o regime norte-coreano trocando ataques verbais, em meio a grande especulação sobre um novo teste nuclear de Pyongyang. O clima internacional mudou dramaticamente depois que negociações com a Coreia do Norte levaram a nação comunista a participar dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, realizados no sul, em PyeongChang. Numa cúpula em abril de 2018, o presidente Moon e o líder norte-coreano, Kim Jon-um, concordaram em encerrar as ações hostis e trabalhar na direção da redução da corrida nuclear na península. Comparado ao presidente americano Donald Trump, Yoon Suk-yeol prometeu durante a campanha acabar com o Ministério da Família e Igualdade e Gênero. Mídia A Coreia do Sul é pioneira em internet de alta velocidade e sem fio. Mais de 45 milhões de sul-coreanos estão presentes online, praticamente toda residência é conectada à internet. O uso de aplicativos de mensagens instantâneas e de jogos são extremamente populares. A leitura de jornais é alta, e há mais de cem diários nacionais e locais no país. A imprensa é frequentemente crítica do governo. Muitos jornais são controlados por conglomerados. As novelas de TV sul-coreanas são populares em toda a região, incluindo na China. Elas são parte da Onda Coreana — a exportação de cultura popular sul-coreana pela Ásia. Relações com o Brasil As relações entre Brasil e Coreia do Sul nasceram no período após a Segunda Guerra Mundial, tanto nos contatos formais entre governos como na chegada de imigrantes coreanos ao Brasil. As relações diplomáticas foram estabelecidas em 1959, e os sul-coreanos abriram sua embaixada no Rio de Janeiro em 1962. A embaixada brasileira em Seul foi inaugurada três anos depois. A imigração de sul-coreanos ao Brasil foi iniciada oficialmente em 1963, apesar de haver registros de chegada de coreanos na década anterior. Também em 1963 foi assinado um acordo comercial. A década de 2010 viu um aumento nos investimentos sul-coreanos no Brasil e no comércio entre os dois países - segundo o Itamaraty, o fluxo alcançou US$ 8,8 bilhões em 2018. A comunidade sul-coreana no Brasil é estimada em cerca de 50 mil pessoas, concentradas majoritariamente na cidade de São Paulo. Linha do tempo da Coreia do Sul A BBC listou algumas datas relevantes que ajudam a explicar os conflitos na Coreia do Sul: 1910-45 - Ocupação da Península Coreana pelo Japão. 1945 - Depois da Segunda Guerra Mundial, a ocupação japonesa termina com tropas soviéticas ocupando a área ao norte do paralelo 38, enquanto forças dos Estados Unidos ocupam o sul. 1948 - A República da Coreia (conhecida como Coreia do Sul) é proclamada. 1950 - O sul declara-se independente, provocando a invasão pela Coreia do Norte. 1953 - Armistício encerra a Guerra da Coreia, que custou 2 milhões de vidas. Anos 1950 - O sul é mantido com crucial apoio militar, econômico e político dos Estados Unidos. Anos 1960 - Grande programa de desenvolvimento industrial. 1988 - Primeiras eleições parlamentares livres. 2002 - Batalha entre navios da Coreia do Sul e da Coreia do Norte, ao longo de uma fronteira naval sob disputa, numa época de contínua tensão entre entre os dois países. 2018 - Num encontro em abril de 2018, o presidente Moon Jae-in e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, concordam em terminar as hostilidades e trabalhar pela redução das armas nucleares na península.

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/12/04/coreia-do-sul-o-passado-autoritario-da-potencia-asiatica.ghtml


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